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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

103 Contos de Fadas - Angela Carter

Resenha por: Vitória Bueno
Livro: 103 contos de fadas
Autora: Angela Carter
Número de páginas: 504
Editora: Companhia das letras



Já fazia um tempo que eu estava de olho nesse livro e resolvi baixar e ler uns contos para ver se eu gostava da proposta, e tals. E hoje e vim falar com vocês sobre a minha pequena experiência com esse livrinho lindo.

Acho válido, antes de falar propriamente dos contos, falar um pouco sobre a introdução feita para esse livro, escrita pela compiladora dos contos, Angela Carter. Nela, a autora fala um pouco sobre a origem dos contos de fadas, que eles eram feitos para entreter principalmente as classes sociais mais baixas. E por causa da esmagadora maioria da população analfabeta, essas histórias eram passadas de forma oral. Esse método é usado desde a antiguidade, desde os clássicos gregos. Ou seja, esses contos e muitas das grandes histórias que lemos e conhecemos hoje, foram passadas adiante através dessa tradição.

Carter também fala sobre a autoria dessas histórias, sobre como é difícil, e muitas vezes impossível, dizer ao certo quem é o verdadeiro autor dos textos. E isso se dá principalmente por causa dessa tradição oral. As histórias são contadas e recontadas e algum nome acaba ficando conhecido pela sua autoria.

É preciso pensar também nas transformações sofridas a cada vez que a história é passada para frente através da oralidade. O que conhecemos hoje talvez seja completamente diferente da ideia original, e é por isso que hoje temos tantas versões das mesmas histórias.

Outro problema surgiu quando esses textos começaram a passar pelo processo de revisão e edição. Diversas partes acabaram se perdendo da história original. Palavras consideradas chulas e também as referencias às funções sexuais foram suprimidas.

Agora falando do gênero Conto, mais precisamente sobre os Contos de Fadas, acho interessante dizer que segundo Carter, a palavra tale (conto em inglês) é sinônimo de mentira, ou seja, essas histórias não tinham a intenção de serem verossímeis, eram apenas para trazer a sensação de prazer.

Por fim, a autora fala sobre os motivos para se usar as representações da realeza na maioria dos contos: a realeza era o desejo inalcançável, a imaginação, ou seja, mais uma vez, servia para entreter o público.

A compilação de Carter reúne 103 contos onde todas as histórias trazem como protagonista, uma mulher. Ela faz isso exatamente para dar espaço às representações femininas nas culturas do mundo inteiro, tirando as mulheres do papel secundário.

Os contos do livro são os mais crus possíveis (sem edições por parte da autora), ou seja, falam mais abertamente a respeito da sexualidade e não reluta em escancarar as piadas sujas e as sátiras à visão de vida.

Contos:

Bom, eu não li todos os contos ainda, li só alguns, mas prometo vir falar de alguns que eu gostar muito.
Dos que eu li, gostei bastante de dois, e vou falar brevemente sobre eles.

O Senhor Fox (conto inglês)

Lady Mary era muito bonita e por isso tinha muitos pretendentes, mas ela acabou se apaixonando por um homem que conhecera enquanto estava na casa de campo de seu pai. Ele se chamava Fox.
Ninguém o conhecia, mas ele dizia que tinha um luxuoso castelo.
Lady Mary um dia aproveitou que o noivo viajara e decidiu ir às escondidas conhecer o tal castelo.
Ao chegar ao terreno, viu diversas mensagens escritas por todos os lados, tentando alertá-la a não adentrar no lugar, mas ela entrou assim mesmo.
Quando chegou a um determinado cômodo, encontrou caveiras e cadáveres ensanguentados de diversas mulheres.
Saiu do castelo assustada, quase sendo pega pelo misterioso homem que no dia seguinte se tornaria seu marido.

Conto incrível, de arrepiar, por mais que não seja muito descritivo, que é o jeito que mais gosto e que eu acho que implanta mais tensão.
Achei bem parecido com a premissa de O barba azul, famoso conto de fadas que conta a história do homem que matava friamente suas esposas.
O final também é muito bom, mostrando a astucia da moça para tentar se livrar do mau caráter.
Recomendo!

A jovem pescadora e o caranguejo (conto tribal indiano)

Um velho Kurukh e sua mulher não tinham filhos.
Após uma bem sucedida plantação de arroz, os dois encontram uma abóbora no meio da plantação e a levam para casa.
Ao abrir a abóbora, a velha encontra um caranguejo em seu interior e achando que aquilo era um sinal, torna o animalzinho seu filho.
Ele cresce e se casa, mas naturalmente, a mulher do caranguejo não gostava do marido, afinal, ele não podia cumprir seu papel de homem.
Ela então, uma noite, sai à procura de um rapaz que a satisfaça.
O caranguejo a segue e ao se deparar com uma árvore faz uma espécie de ritual e se transforma em um belo homem. Vai atrás da mulher que, logo que o vê, sem desconfiar que seja seu marido, fica imediatamente atraída.

Esse conto é realmente incrível! E possui diversos aspectos culturais interessantes.
Além disso, é divertidíssimo observar a esperteza da personagem principal e até a onde ela vai para conseguir o que quer.
Foi meu conto preferido até agora, me diverti muito enquanto o lia.

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