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segunda-feira, 30 de abril de 2018

Meninas a respeito do amor - Brenda Bernsau

Resenha por: Vitória Bueno
Nota: 10,0 - 10,0
Livro: Meninas a respeito do amor
Autora: Brenda Bernsau
Número de páginas: 178
Editora: Multifoco



Pessoas, hoje vim falar sobre esse livro maravilhoso! Não é nenhuma novidade o meu amor pela escrita dessa autora. Estou sempre falando sobre "Sophia, Alexia e o mundo além daqui", um outro livro da mesma autora (tem resenha Aqui no blog, por falar nisso :-D)
Esse livro, possui seis contos com temáticas variadas, mas com algumas similaridades: todos eles vão ser protagonizados por mulheres. Brenda vai despindo as dores, alegrias e amores de diferentes personalidades.
Não vou me alongar na hora de falar de cada conto porque esse post já vai ficar bem extenso mesmo com eu medindo as palavras, então... Vamos lá!

Os fantasmas de Crisálida

Catarina é uma garota de 17 anos que sofre de uma grave doença degenerativa que fez com que ela perdesse os movimentos do corpo. No estágio da doença em que está, a jovem já não pode mais andar e depende da família para tudo. 
A doença acaba então trazendo para sua vida, Cibele, uma tia com quem ela não se identificava muito. 
Cibele é escritora e após escrever um novo romance e dar de presente para sobrinha, um elo se forma entre as duas quando Catarina vê na leitura um meio de fugir da sua nova realidade caótica. 

Conto espetacular! Tão delicado, frágil... De tirar o fôlego, e as lágrimas kkk 
A autora soube descrever bem a complexa situação que serve de base para a história, mas a doença não é a protagonista dessa história. É bem mais uma história de amor, uma história sobre encontrar conforto onde menos se espera. 
Quanto a escrita... Espetacular! Extremamente madura e literária. Contado em terceira pessoa, o conto de Brenda intercala presente e passado de forma magistral, obtendo como resultado uma belíssima unidade narrativa. 

Se o processo não passava de uma queda parcial no abismo, por que, pelo menos, ela não se apressava um pouco? Porquê? Porque não terminava com tudo de uma vez (seu tudo já se parecia tanto com nada)?


Déjà vu 

Glenda acabou de se mudar para Natal. Ela não se importou muito com a mudança pq não tinha nada para deixar pra trás, afinal, ela já havia deixado há muito tempo, quando foi diagnosticada com depressão e precisou largar os estudos, além de perder o contato com os amigos. 
Na nova casa, ela conhece Flávia, uma garota que logo desperta sua atenção. A garota parece ter um campo magnético a sua volta, que atrai Glenda de uma forma inexplicável. 
A história vai girar em torno dessa complicada relação. 

Gostei bastante do conto. A autora vai abordar a depressão, um assunto necessário e complicado, de uma forma sutil, deixando a doença, assim como no primeiro conto, em segundo plano, focando mais nos sentimentos interiores da personagem e em como ela reflete a respeito de seus questionamentos. 



Ao redor de Camila

Um dos contos que mais gostei. 

Vai contar a história de Aline e Alejandra, duas amigas bem diferentes. Alejandra, uma garota hispano-americana, decidida, que aparentemente tem um caminho claro a percorrer. Já Aline, diferente de sua melhor amiga, não sabe o que fazer de seu futuro. Ela é uma garota trans, ainda se descobrindo. 
Depois de conhecer uma garota pela internet, Aline, com medo de não ser aceita, cria um perfil falso, onde usa a imagem de Alejandra. Esta ao descobrir, acaba aceitando ajudar a amiga. Mas nenhuma delas sabia que isso acabaria dando inicio a um processo de auto descoberta e auto aceitação, para ambas. 

Temática complicada. Delicada. Mais complicado ainda deve ser escrever sobre ela sem deixar de mostrar suas diversas facetas. A autora vai adentrar na mente e expor os medos e as inseguranças de uma trans, mas mais que isso, vai adentrar na mente e expor os medos e inseguranças de uma garota que ainda não se descobriu. 

“Aline,que nem sempre foi conhecida como Aline. Que se descobriu Aline; uma Aline escondida, raptada em alguma noite do seu coração.Teve de aprender sobre as coisas da manhã, do céu e suas tantas cores possíveis, do que é ter medo de viver — e ainda assim viver.” 



Helena e Juno 

Já esse conto é talvez o mais denso desse livro. 

Helena conhece Juno em um sarau. Foi convidada pela a outra a tomar uma cerveja depois de sua apresentação. Depois disso, nasce uma relação que é desde o inicio meio maluca. Helena era compositora, estudava. Juno não tinha um rumo certo, levava uma vida conturbada. 
Logo as duas começaram a tocar juntas. Começaram a fazer sucesso. Mas o relacionamento era toxico, machucava. 

O conto vai apresentar a trajetória dessas duas personagens. Mas principalmente a de Helena, já que o foco narrativo permanece mais perto dela, mostrando com ela se sente com o que está acontecendo a sua volta. Vai falar de como ela era antes, durante e depois de Juno em sua vida. Vai falar de relacionamentos abusivos, sobre a fama, sobre sonhos quebrados e sobre as consequências da inconsequência. 

O mais legal é que a história desse conto vai se interligar com a de outro conto. Então preste atenção! 



Borboletas 

Conto meio psicodélico. Não é pra se entender. É pra se apreciar. 
A autora sabe criar esse tipo de clima muito bem. Ler essa história é como ler um sonho. É complicado. 

É narrado em primeira pessoa, o que piora um pouco mais as coisas, já que a personagem não sabe muito bem onde está, ou o que está fazendo naquele lugar. Além disso, ela vai interagir com outras personagens complexas, que nada entregam. 

O que você faria se fosse parar em um lugar estranhamente familiar, mas ao mesmo tempo tão estranho? O que faria se fosse parar em um lugar onde o tempo não parece significar nada? 



Cores Coreanas

Para fechar o livro com chave de ouro, temos esse conto, que vai apresentar uma confusa, porém linda história. 

No início não se entende muita coisa. Isso se dá porque a narradora da história, Micaela, não sabe muito bem o que está havendo. Ela está em uma cidade da Coreia do Sul e não entende nada do que tentam lhe dizer. Não sabe por que está ali. Só sabe que tem guardado no bolso da calça dois colares, um com seu nome, e outro escrito “Simone”. Não sabe quem é a dona do nome. Mas quer muito descobrir. 

O mistério percorre todo o conto. Aos poucos o leitor vai pegando as coisas. É uma história sutil, extremamente frágil, que tem um final bem surpreendente, mostrando a importância do companheirismo e da gentileza.

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