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terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Sob os Olhos do Delírio - Fábio de Andrade

Resenha por: Vitória Bueno
Nota: 10,0 - 10,0
Livro: Sob os Olhos do Delírio
Autor: Fábio de Andrade
Número de páginas: 26



Há alguns dias o autor Fábio de Andrade entrou em contato comigo com o fim me apresentar uma pequena antologia composta por três contos escritos por ele. E esses contos foram uma grande surpresa para mim.
Possuem escrita e narrativa maduras, mostrando certo domínio da parte do autor. Além disso, são interessantes, todos os três, não permitindo o tédio. E o autor vai conduzindo a história para finais surpreendentes!

Gostei principalmente de certos detalhes, que podem passar despercebidos por alguns leitores, mas foram os mais interessantes, na minha opinião. Por exemplo, o desenvolvimento do cenário, que é sempre importantíssimo em contos desse gênero para que o desfecho atinja o impacto desejado, foi muito bem desenvolvido aqui nessa antologia.
Eles ajudam a implantar um clima denso, obscuro, típico das histórias de horror.
Nos dois primeiros contos, a chuva acompanha as personagens durante o desenrolar da história e dá esse ar mais obscuro para a história.
Já na última história, o hospício é que é o verdadeiro personagem principal da história, carregando um ar de mistério e medo.
A escuridão também ajuda a implantar a tensão nos contos. A casa que serve de cenário para o primeiro conto está sob a penumbra e o quarto que mantém a personagem do último conto preso, está com a luz queimada.

Além disso, a antologia está cheia de ilustrações maravilhosas que, na minha opinião, são a cereja do bolo.

Enfim, não me estenderei mais. Só amei!
Escrita intrigante, inteligente.
Personagens bem desenvolvidas.
Recomendo para aqueles que desejam se aventurar por uma leitura deliciosa com um toque de medo!

Fiquem agora com minhas opiniões sobre cada um dos contos.



O Horrível Fim de José de Alencar

Conto tenso.
A forma usada para narrar o conto foi no mínimo inteligente. É uma narrativa epistolar (uma carta). O narrador é um senhor já com seus 70 anos de idade.
Ele conta em sua carta como se deu sua ruína. A carta é um bilhete de despedida.

A tensão se implanta desde o primeiro parágrafo. O leitor percebe desde o início que algo ruim aconteceu com aquele senhor.

José de Alencar conta sobre o maldito dia em que, de folga do trabalho, resolveu dar uma caminhada, e foi parar de frente a uma misteriosa casa que o atraiu de pronto. A casa parecia possuir um imã que o puxava para ela. Mesmo sabendo que algo estava errado e que não era certo adentrá-la, ele o fez, e isso foi o seu maior erro. Sete dias depois, não conseguindo esquecer os acontecimentos que viu e sofreu na casa, o homem escreve aquela que seria sua última carta.

A personagem é interessantíssima. José de Alencar induz que sua ruína se dera ao entrar na casa, mas a verdade é que ele já estava arruinado. Era solitário, vivia para o trabalho e tinha como grande paixão, o cigarro. Ele já levava uma vida miserável.

O desenrolar do conto vai implantando uma tensão deliciosa. O final é surpreendente, de tirar o fôlego. Realmente de arrepiar. E a forma com que o autor decidiu encerrar a história, dando ao leitor uma perspectiva fora da limitada narrativa da carta, foi brilhante. Adorei!



Em casa

O início desse conto não revela muito. O que deixa transparecer é uma história delicada, frágil. E realmente é. Mas eu não esperava que o delicado e frágil fosse ao final por motivos opostos aos que eu esperava.

O narrador, Alfredo, fala durante todo o curto conto sobre sua amada e sobre seu desejo de reencontrá-la. Mas ele tem um pouco de receio, pois já faz dez anos desde que a vira pela última vez.
As lembranças de sua amada permeiam sua cabeça.
O conto se desenrola a partir daí.

Eu diria que é uma história sobre saudade, sobre companheirismo. E o final, é realmente de arrepiar, e o é, porque não é o que se espera.



Obmen – 01

Sem dúvidas o conto mais maduro, muito bem escrito.
Conta a história de um hospício da Rússia dos anos 40 – 50, que após anos de funcionamento, decide fazer uma parceria com uma divisão militar soviética, onde concorda em fazer testes nos pacientes para torná-los soldados.

O narrador dessa história, Nikolai, está preso em um dos quartos do hospício, esperando o enfermeiro chegar para colocar seu plano em prática. Enquanto espera, ele narra sua história e os motivos de estar preso ali. Motivos esses que se resumem facilmente a um nome: Nadezkha, uma paciente, por quem ele se apaixonou.
Ele pretende sair dali naquele dia, com Nadezkha.

No decorrer da narrativa, conhecemos mais a fundo os motivos da personagem e também as pessoas que o levaram àquele ponto.
As personagens secundárias se mostram interessantíssimas. Principalmente Dimitri, outro paciente, que mantém conversas com Nikolai, conversas estas que são muito importantes para o desenvolvimento da história.

O final se desenrola de uma forma inesperada, causando uma baita confusão a principio, precisando de algumas releituras para ser compreendido.

Super-recomendado!

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