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terça-feira, 29 de janeiro de 2019

não verás país nenhum - Ignácio de Loyola Brandão

Resenha por: Vitória Bueno 
Nota: 10,0 – 10,0
Livro: não verás país nenhum
Autor: Ignácio de Loyola Brandão
Número de páginas: 384
Editora: Global
Onde comprar: Livraria CulturaAmazon





Bom, hoje eu trouxe esse livro pra indicar pra vocês, um livro que me fez refletir muito a respeito do mundo que nos cerca, e sobre nosso momento atual. Foi um soco no estomago em muitos momentos. 

Em “não verás país nenhum”, nos será apresentado um homem, Souza, que vai narrar um pouco de sua história em um Brasil distópico. Não existem mais árvores, não existem mais rios, existem pontos de coleta de urina para filtrá-la e colocá-la a ponto de consumo, não chove há muito tempo, a temperatura está literalmente de matar, não há sequer brisas de vento e doenças estranhas matam aos montes. Comida? Só feita em laboratório. 

Souza era professor de história, mas foi afastado de seu cargo e colocado em uma empresa de contabilidade porque ele falava sobre assuntos proibidos com seus alunos. Agora ele é um homem submisso do “Esquema”, acorda cedo, acaricia o ombro de sua mulher e vai trabalhar. Sempre o mesmo. Tudo automático. Ele se questiona, é teimoso, mas não faz nada que não faça parte de sua rotina. Não expõe sua opinião. 

Até que um dia ele aparece com um furo na mão e sua mulher resolve lhe largar. Seu sobrinho, um militar corrupto, leva estranhos pra sua casa. Sua casa agora é depósito de contrabando. A partir daí a vida monótona de Souza ganha mais intensidade. 



“Se ninguém impede, as coisas continuam, eternizadas. É preciso sempre intervenção, que alguém se interponha, se transforme em obstáculo à repetição.” 



Souza é como muitos. Quieto, calado, submisso. Vê a corrupção, a desonestidade e a injustiça passar ao seu lado sem fazer nada para mudar seu futuro. E é por isso que ele é uma personagem espetacular! O livro é narrado em primeira pessoa e o leitor vai aos poucos, entrando na confusa mente de Souza, e sentindo suas frustrações, seus devaneios, suas loucuras. E o livro acompanha cada estado de espírito dele. Ao ler, eu era o Souza. E acho que muitos o são também! 

Nos vai ser narrado dois principais planos: o da vida pessoal de Souza, levando em conta suas relações pessoais e suas escolhas no decorrer da história, e o plano social, enfocando no reflexo deste mundo distópico e comandado por um regime autoritário,  às pessoas que nele vivem.

A escrita deste autor é fantástica! Como eu disse, as coisas vão ficando mais intensas e confusas, com base no que Souza está sentindo. E ele é um incrível narrador. É intrometido, ácido, e principalmente, humano.



“— Lembra-se de quando líamos os livros de Clark, Asimov, Bradbury, Vogt, Vonnegut, Wul, Miller, Wyndham, Heinlein? Eram supercivilizações, tecnocracia, sistemas computadorizados, relativo – ainda que monótono – bem-estar. E, aqui, o que há? Um país subdesenvolvido vivendo em clima de ficção científica. Sempre fomos um país incoerente, paradoxal. Mas não pensei que chegássemos a tanto. O que há em volta de São Paulo? Um amontoado de acampamentos. Favelados, migrantes, gente esfomeada, doentes, molambentos que vão terminar invadindo a cidade. Eles não se aguentam além das cercas limites. Não há o que comer!” 



Se você quer ler uma distopia brasileira, uma distopia que vai mexer com você, leia Ignácio de Loyola Brandão, porque o cara é foda de verdade, e sei que ele escreve muito sobre o gênero. 

Fica a dica! 



“-- Gosta ou não do Esquema, tio?
-- Não.
-- Viu, tia? Viu como eu estava com a razão?
-- Está brincando comigo. Não está, Souza? Diz que está.
-- Não gosto do Esquema. E não estou brincando.
-- Souza, você está louco?
-- Não gosto do Esquema, não posso gostar. Tudo que está aí foi por causa dele.
-- Tudo o que está aí?
-- Tudo. O país despedaçado, os brasileiros expulsos de suas terras, as árvores esgotadas, o desertão lá em cima.”

Um comentário:

  1. Um livro excelente para se ler. O li algum tempo atrás e, lembro-me que a leitura foi agradabilíssima. Um abraço!!

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